AFEIÇÃO SINGULAR
Confesso que, até então, eu sentia certa aversão por cães, em geral, talvez por temer a agressividade dos mesmos ou pelas inúmeras inconveniências de mantê-los dentro de casa.
Eis que, num final de semana, meu filho Ângelo Luís chegou de Itu trazendo aquela fofura canina, uma cachorrinha da raça Cocker de cor marrom caramelo.
A Natasha, recentemente desmamada, de pelo liso, meio ondulado e macio, e de orerelhas compridas, permaneceu em casa por alguns dias. E foi o tempo suficiente para conquistar, com sua doçura e meiguice o meu coração, bem como o de todos da casa.
Ela fora adquirida em Rio Claro, onde nascera no dia 12/06/1998, conforme consta em seu “Atestado de Vacinação e Controle de Verminose”.
Não conseguimos mais ficar sem a Natasha que passou a conviver conosco tornando-se, ao longo de onze anos, uma companheira inseparável que muito alegrava o nosso viver.
Sempre dócil, depois de estranhar um pouco à primeira vista, logo se familiarizava com todos que se relacionavam conosco, sempre demonstrando, porém, seu carinho especial pelo Ângelo Luís, seu primeiro dono.
Vivia dentro de casa, dormia em um sofá no cômodo contíguo ao meu escritório, onde permanecia ao lado do micro computador até que eu fosse para a cama, geralmente às 23 horas, depois de fazer “xixi” na grama do quintal e ganhar um biscroker.
Geralmente, após o almoço, ela ficava deitada no chão, ao lado da minha cama enquanto eu tirava uma soneca.
Era mimada e acariciada pela faxineira, pela manicure e por todos que freqüentavam nossa casa.
Ficava muito animadinha quando eu a chamava para por a “coleira de passeio”. Nossos passeios pelos quarteirões vizinhos não eram longos, pois ela se cansava logo e queria voltar para casa.
Dos banhos frequentes, na Vet Clin, voltava sempre com lacinhos coloridos nas orelhas.
Foi sempre muito gulosa; alimentava-se de ração misturada a uma pequena porção de carne de vaca ou de frango, mas exigia tudo que nos via comendo, inclusive doces e frutas.
Muito exigente e comodista ficava bravinha chegando até a morder quem a importunasse.
Na última quinzena do mês de abril de 2009 notamos que estava bebendo muita água, urinando bastante e rejeitando alimentos, o que nos levou a procurar assistência do veterinário; providenciamos os exames médicos e a substituição da ração.
No início da primeira semana de maio começou vomitar com certa frequência e ficava prostrada no chão sem se alimentar. Tivemos que recorrer a mais duas clínicas veterinárias; constatou-se que ela estava com dosagem muito elevada de açúcar; começou receber o tratamento específico para diabete, mas depois de forte convulsão morreu na manhã de domingo, dia 03/05/09, cercada do carinho e sob o pranto dos que a vigiavam: Dora, Flavinha, Jô, Guto, Gutinho e eu.
Foi enterrada, com todo nosso carinho e consternação, na “Chácara Ranchinho, onde está localizada a “Sociedade Araraquarense de Estudos Espíritas Allan Kardec”.
Da ocorrência, aqui registrada, merecem destaque algumas marcas de experiência de vida: 1ª, a Natasha nos ensinou a compreender e a amar os nossos irmãos irracionais; 2ª, a perda de seres queridos causa-nos profunda dor moral, conquanto nos exercita na prática da humildade e da submissão; 3ª, a solidariedade espontânea e sincera entre familiares e amigos constitui um bálsamo suavizante para as nossas dores morais.
Luiz Gonzaga Seraphim Ferreira - Araraquara, 15/05/09
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