A PORTEIRA ENCANTADA
A velha porteira de madeira era a primeira coisa que divisávamos ao escancarar a janela do terceiro quarto da casa - aquele em que se instalavam, freqüentemente, os inesquecíveis hóspedes.
Mas, nesse dia, a velha porteira não estava lá.
Ela, que apesar de combalida pelo vai e vem constante, sempre apinhada de crianças alegres e felizes, orgulhava-se com razão, de ser o “play ground” da escolinha rural... não mais estava lá.
Havia sido substituída por uma cancela novinha, toda pintada de branco.
E, com a competente providência administrativa do chefe da estaçãozinha da CP. (Companhia Paulista de Estradas de Ferro), uma ordem expressa: “ninguém mais poderá ficar pendurado e balançando na porteira nova”. Até um cadeado e uma corrente haviam sido providenciados.
Como não podia ser de outra forma, a criançada logo protestou com veemência... Nenhuma palavra rude e subversiva, nenhum gesto desrespeitoso, nenhuma pichação - mesmo porque, nos idos de quarenta, a única “pichação” que se conhecia era feita pelas Casas Pernambucanas, nas porteiras das estradas.
Mas, o protesto que transparecia nos semblantes da gurizada, da qual eu fazia parte, fora muito bem captado pela sensibilidade do “chefinho da estação”, o meu pai muito querido de todos... E a nova porteira foi liberada ... para o encanto de todos.
Assim como a “porteira encantada” da estaçãozinha de Remanso todas as “porteiras” da nossa vida deveriam ser liberadas para que os nossos sonhos pudessem se concretizar...
Na foto 1 - a “porteira encantada” Arlete, Jozélia, tia Zélia e tio Zelão.
Na foto 2 - o “Chefinho da Estação” com a priminha Jozélia e o primo Lúcio.
Luiz Gonzaga S. Ferreira, Araraquara, 5/04/09
Nenhum comentário:
Postar um comentário